Por: Pr Valdeci Jr.
Como líder de uma igreja local, tenho dificuldade para lidar com um assunto. Jesus expulsou os vendedores do Templo. Hoje, vemos vendas de CDs e Livros em nossas igrejas. Se Jesus estivesse presente, expulsaria as pessoas que estão praticando esta atividade, condenando a mesma?
Boa pergunta! Imagino que você tenha como referência, o ocorrido com Jesus, relatado em Mateus 21:12 e 13; Marcos 11:15-17 e Lucas 19:45 e 46. O Texto
Mateus 21:12 e 13 – Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores
Marcos 11:15-17 – E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo; também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores.
Lucas 19:45 e 46 – Depois, entrando no templo, expulsou os que ali vendiam, dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração. Mas vós a transformastes em covil de salteadores.
Uma vez que você tomou como base a comparação entre os acontecimentos, vamos, por comparação, tirar as nossas conclusões, tendo como base as aplicações que o texto bíblico, e somente ele, possa nos ensinar.
A Análise do Texto
1)tendo Jesus entrado. Indica estar na parte interior do templo.
2)ali vendiam e compravam. Estavam ali com a finalidade comercial.
3)mesas e cadeiras´…utensílios (stands). O lugar passou a ter características físicas de fins comerciais.
4)cambistas os que vendiam (do grego e “poleo”) – Comerciantes; pessoas cuja atividade profissional era o negócio da compra e da venda.
5)…casa de oração …transformado (a) em covil de salteadores – A atividade comercial estava em primazia. O lugar não estava sendo mais um veículo de adoração. O ambiente era de negócios. Perdera a característica de igreja e adquirira aspecto de feira.
6)covil (do grego spelaion) – Caverna, morada. Os camelôs tinham aquele lugar como seu próprio estabelecimento comercial.
7)salteadores – ladrões – A maneira pela qual eles comercializavam era desonesta. O povo era fraudado ao cambiar com aqueles negociantes. Covil de salteadores poderia ser traduzido, literalmente, como caverna de ladrões. Uma expressão que indica a inferência de um atributo escondido. A aparência dos “cambistas” era de vendedores, mas no fundo eles eram ladrões.
A Aplicação do Texto
Vamos ver as lições que a história pode nos ensinar. Por elas, aprendemos que Jesus condenou o “comércio”, ou a “adoração”, isto é, a “atividade”, que tenha as seguintes características (pense num tipo de atividade que acontecesse assim):
1)Dentro da igreja
2)Como atividade principal (e não secundária, necessária, ou de apoio), o negócio financeiro.
3)Que fixasse stands dentro da igreja, com uma marca comercial.
4)Com vendedores de CDs, ou livros, que não vivessem dos ministérios da pregação ou da música, mas da compra e da venda. Isto é, que não fossem cantores, ou autores, mas sim homens cujo ramo principal de sustento para sua vida fosse serem comerciantes.
5)Tão intensa a ponto de atrapalhar o culto, dando idéia a quem passasse que ali não estivesse sendo mais uma igreja, mas sim uma feira.
6)Com a própria igreja se tornando o estabelecimento comercial fixo e único dos vendedores. Um ponto de referência pra quem quisesse fazer uma compra.
7)Com as pessoas que estivessem entregando a mercadoria e recebendo o dinheiro sendo desonestas e trapaceando aqueles a quem estivessem atendendo.
Comparação
Diante das lições ensinadas, se quisermos afirmar, tendo como base o relato da purificação do templo realizada por Jesus, que as igrejas, ao admitirem que pessoas que passem por ali vendam ou comprem livros ou CDs, estão certas ou erradas, precisamos levantar as seguintes perguntas:
1)Os livros e CDs estão sendo vendidos dentro da nave da igreja?
2)Os que estão ali para veiculizar os livros e CDs foram ali somente para isto?
3)Estes vendedores estão montando seus stands e bancas dentro da igreja?
4)Os que estão vendendo, não são missionários, nem cantores, nem crentes, nem adoradores, mas sim, vendedores, que foram até ali só para defender seus interesses econômicos através da venda, porque sua profissão é de natureza comercial?
5)A atividade do culto tem sido substituída pela atividade de mercado? As vendas têm acontecido nas horas de adoração, suprimindo-as?
6)A igreja se tornou o estabelecimento comercial fixo dos vendedores? Ou um shopping-point referência para os consumidores?
7)As pessoas que estão facilitando a aquisição das obras estão sendo desonestas e trapaceando os adquiridores?
Você vê a gravidade do exagero que podemos reivindicar ao sermos criteriosos demais no uso da letra? Se a resposta for “sim” para todas as perguntas acima, então a resposta é “sim” para a pergunta que estamos tentando responder através deste texto.
O Que Concluímos
Evidentemente, cada situação deve ser analisada em particular. Existem também as pessoas que exageram e terminam ferindo um ou outro princípio dos que analisamos.
Entretanto, o que temos presenciado na maioria das vendas de livros e CDs ocorridas nas comunidades cristãs em geral é:
1)Os livros e CDs não têm sido vendidos dentro da Igreja. Geralmente isto é feito no pátio ou em algum outro ambiente que não seja o lugar consagrado para a adoração. É o espaço físico social da comunidade adoradora.
2)Quem leva os CDs e livros não foi ali só para isto – dirigiu-se até o templo em prioritário lugar, para adorar ou ministrar adoração.
3)Não temos visto stands, marcas, faixas, banners, barracas, ou bancas, fixados dentro da nave da igreja.
4)Não temos visto congregações contratarem firmas, lojas, representantes comerciais ou de venda, que não tenham vínculo com a Missão da Igreja e seus propósitos. Ou seja, contratos com comerciantes indiferentes que se dirijam ali simplesmente para mercadejar. Por curiosidade, um cantor ou autor, gasta mais de 80% do seu tempo ministrando o conteúdo de sua obra (seja ela impressa ou fonoaudiográfica), e menos de 20% do seu tempo entregando a mercadoria e pegando o dinheiro. Ele jamais levaria sua vida como um vendedor. Sua atividade é cantar, escrever, compor, pregar. Neste caso, vender é uma conseqüência natural que visa beneficiar mais o membro do que o próprio profissional da palavra escrita, falada ou cantada.
5)A atividade principal da igreja continua sendo o culto. Não há igrejas que têm reuniões oficiais marcadas, onde seus fiéis se reúnem apenas para fazer compras. O tempo sagrado de adoração, não tem sido usado para vender livros ou CDs.
6)Os que levam livros e CDs para que os membros os tenham, têm os seus próprios (outros) lugares de trabalho e moradia fixos, desvinculados das dependências físicas da igreja.
7)A Igreja jamais admitiria que alguém que fraudasse seus membros e possuísse comportamento desonesto para alcançar seus fins se posicionasse em qualquer atividade em suas adjacências.
Se alguma congregação praticasse todos os itens negativados dessa lista analisada, vendendo dentro da nave igreja, com stands armados, através de profissionais do negócio, com atividades feirantes tomando o lugar da adoração, tendo seu ambiente descaracterizado de templo parecendo mais um mercado e com pessoas usando de fraude para alcançar seus fins, creio que teria sua prática merecedora da condenação de Jesus, tal como aconteceu na narração dos textos bíblicos que analisamos.
Os comerciantes do Templo estavam ali para explorar o povo que vinha para oferecer sacrifícios e não podiam trazer sua oferta: o animal a ser sacrificado. Era uma exploração do tipo “monopólio”, cujo expediente era apoiado, e ela própria era comandada pelos sacerdotes saduceus. A motivação de Jesus era fazer justiça, condenando essa manipulação dos fiéis que, desprotegidamente, ou se submetiam ao monopólio opressor ou não tinham como adorar. Isto tornava a casa de culto num mercado explorador e injusto.
A situação dos atuais fornecedores de CDs aos crentes é beeem diferente. Isso, contudo, não exclui a necessidade de uma análise cuidadosa para ver se o objetivo primário da casa de culto não estaria sendo colocado em segundo plano. Logo, é preciso julgar e analisar cada caso, em seu contexto.
Mas eu espero que as vendas de livros e CDs para os membros de sua igreja sejam um instrumento de benção, que facilite o acesso deles à pregação escrita ou gravada.
E que o Deus dos Céus continue abençoando muito a você e seu ministério de liderança eclesiástica!
Um abraço do seu amigo e irmão em Cristo.
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